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quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Madame Bovary


Madame Bovary, a minha literalidade desentendeu-se
No oceano metafórico do teu ser
Onírico complacente que Fellini filmaria
Onírico fantasiado por linhas divertidas de Gabo

Madame Bovary, não sei mais somar o óbvio
E nesse cálculo não sei nem mais o que sou
Minhas mãos, outrora tão grandes, tornaram-se areia,
 Dissolvidas pela liquidez da tua ânsia volátil

Madame Bovary, na clandestinidade escandalosa daquela tarde
Minhas pernas ataram a explosão ferina da tua impulsiva imprudência sexual
Meu quadril alinhou-te como um frevo harmonioso
E conduziu-te - ó minha dama – nas notas fervorosas de outro ritmo

Madame Bovary – antes, Morgana das Fadas
Escondida há semanas sob brumas digitais
Codificadas em dualidade – lucidez e libertinagem
Elementos encantados que rabiscam o sagrado feminino do teu ser

Adjetivos e pronomes – todos possessivos e sujeitos
Por todos eles fui invocado por ti, minha Madame Bovary
Declarações em códigos, carícias desconhecidas para mim, tão novo,
Codinomes estrangeiros compartilhados com as confidentes orelhas coloridas nas estantes

Madame Bovary, a minha inabilidade só não era maior
Que as minhas histórias – todas inventadas ou aumentadas
Em solfejo provocador para irritar o seu ego ciumento
Mas que indiretamente atingia a virilidade da minha juventude

Madame Bovary, de sotaque quase inexistente e vaidade notável
Arranha deploravelmente um francês, quase inaudível
Tu poderias ser a minha Capitú, mas não há dúvidas sobre a tua lascívia aqui condenada Nociva ao seio da sociedade, mas que suguei tal qual um poeta do mal do século

Madame Bovary, recobrei o que sou – um ébrio romântico
Alguém que se entorpece de sentimentos em uma tarde
Fingindo indiferença em outras ocasiões
Contemplando dos bastidores as tuas cenas possessivamente enérgicas

Madame Bovary, recobrei que tu significas a insatisfação pela qual Buñuel faria morada Incendiando todas as tuas metáforas na literalidade do amor por um ordinário

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