Um passarinho caído, velado por outro
Que inconscientemente acredita que se
Deixá-lo, a sua essência se escorrerá
Na cicatriz do asfalto sujo e quente
A vigília não tem mais espectadores
Um assobio contínuo, continua a chamar
Pelo pássaro, sem resposta
O canarinho vê a noite espreitar o velório solitário,
Com a sua túnica preta aproxima-se com o orvalho:
Ela - complacente com a dor do canário
Ordena que aquele vento úmido colabore com o funeral
Ele- Obediente - cobre o corpo imóvel, faz
Um cortinado de gelo translúcido e marrom
Redoma delicadamente aquele bicho
E ajuda o companheiro na campana do seu amigo
A incerteza sobre a vida é o que levamos com a morte
Sentimento comum entre humanos e canários
Ainda que criemos teorias de continuidade por mérito
Linha de barbante que se estica em uma progressão infinita
Linha tecida pelo fio celeste do imaginário
O que nos resta de todo esse desespero
É o desprezo arrogante da saudade
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