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quarta-feira, 4 de setembro de 2024

A despedida do café da manhã

Enquanto preparava o café da manhã em casa, meu marido saia do banho cantarolando algo musicalmente indeterminado para mim, até que em certo momento aquele cheiro invadiu as minhas narinas.

Foi no exato momento em que punha a garrafa de café sobre a mesa que o almíscar e outras essências tomaram aquele momento da minha manhã. Uma experiência sensorial incomum, já que não me surpreendia facilmente com cheiros, só sei que um calor invadiu o meu peito e a minha garganta adotou a textura de nó enlaçado. Fiquei parada em frente à mesa, tentando processar todas aquelas sensações. Era tudo muito estranho.

- Vida, você já fez o café? Preciso ir para o ensaio da banda, tô atrasado.

A frase me sobressaltou e recobrei a consciência do que estava fazendo, havia esquecido de pegar as canecas de café no armário, mas adiantei-me para realizar esse afazer.

Clincg Cloncg _ Era o tilintar do encontro das louças agarrados pelas alças.
Clâncg _Era o tilintar do encontro das louças sobre a mesa.

“Que esquisito, esses sons tão comuns hoje me parecem tão diferentes...”
E as reticências ecoavam estridentemente na minha cabeça, ainda mais quando fui até a porta da geladeira aberta para pegar o leite e ouvi uma música antiga vinda do apartamento vizinho:
“Todo dia é o mesmo dia, toda hora é qualquer hora...”

A música da cantora Diana, o tilintar das canecas, o cheiro do Axe, tudo isso era coordenado pelo eco das reticências. Fui surpreendida pelo abraço do meu companheiro, o afago das suas mãos sob as minhas costas, o cabelo molhado respingando sob meu rosto que se confundiam com as minhas lágrimas conscientes e então entendi: Aquelas reticências tinham forma de nostalgia. Sorri com tudo isso e após um beijo em seus lábios, ressignifiquei toda aquela experiência sensorial.

- Amor, hoje eu me lembrei de quando eu era pequena e meu pai se despedia de mim logo pela manhã após o café para sair para trabalhar na Brahma. Ele era caminhoneiro e passava quase uma semana fora de casa.

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