O horizonte que eu desejo ver
É cheio de calor, transbordando de paixão
Num mar revolto de fios vermelhos e o quase grisalho dos seus cabelos
O horizonte que eu desejo ter
É um horizonte onde mergulho em magma puro
Nado borboleta de fluídos:
Encontro do seu V labial
EnluVamento no meu arco do cvpido
Aeróbica suaVe, rito sem prece, instrumentada por duas hidras inefáVeis
Nadando no saliVante mar de luxvria
Por Bruna Argolo
Pétalas de Jornal
Olá, meu nome é Bruna, sou professora e amante de Arte, essa com letra maiúscula e bonita de se admirar com todas as suas linguagens.
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025
Horizonte inebriante
quarta-feira, 4 de setembro de 2024
A despedida do café da manhã
Enquanto preparava o café da manhã em casa, meu marido saia do banho cantarolando algo musicalmente indeterminado para mim, até que em certo momento aquele cheiro invadiu as minhas narinas.
Eu gosto de mim
Eu gosto de mim, sabia?
Me aceitar é uma revolução
Em um mundo que te cobra sempre a perfeição
Sigo de cabeça erguida noite e dia, dia e noite
Transitando em um mundo que me cobra a perfeição
De falatórios inquisidores, de dedos ristes julgadores
Serei a minha melhor advogada
Eu gosto de mim, sabia?
Me aceitar foi uma revolução
Por ter escolhido ser assim e
Por gostar de andar na contramão
A amálgama das órbitas
E antes do início eles estavam lá, evitavam encontrar os meus, mas a minha sede de aprofundar no oceano breu e profundo das suas retinas era maior do que a sua reluta em entregar-se. Eu queria mais, mergulharia de ponta na primeira oportunidade, meu coração palpitava ao imaginar o encontro do meu par ansioso aos de suas órbitas reclusas.
E foi assim. Não, não foi assim. Não houve mergulho de um para dentro de outro. Foi fusão.
O seu nome tem no meu, o meu nome tem no seu
O seu nome tem no meu
O meu nome tem no seu
3 letras em brincadeira
Combinam com riso
Aquilo o que o destino escolheu
segunda-feira, 4 de dezembro de 2023
Sobre viver e etcétera
Uma grossa camada de vidro temperado separava a plateia do desespero. Notava-se a respiração entrecortada entre o medo e o instinto. Era todo uma pelagem cinza amarronzada com uma cicatriz que adornava o seu dorso, tatuagem de bravura por conseguir escapar com vida de sei lá o que, mas naquela tarde cinza de dezembro, com muita chuva, não fosse mais possível continuar.
O olhar atento, mas indiferente ao vidro escuro também mantivera-se displicente à mim, mesmo entre bicudas provocadas propositalmente pelo Adidas rosa bebê almofadada em direção à barreira translúcida. Ele não olhara para mim.
O pedaço do seu longo rabo - agora um toco - estava ao lado do meu tênis. Pavor e nojo contornavam a minha expressão facial. Contudo, senti ali, naquele metro quadrado, uma imensa tristeza, compadecia-me, queria poder dizer-lhe: Sai logo daí e fuja! Saia daí antes que te machuquem ainda mais! Saia daí e venha pra cá antes que te matem!
Tratava-se apenas de um rato, mas naqueles minutos pensei: O que difere seres humanos e seres ratos, já que todos lutamos pela sobrevivência, cada qual ao seu modo? E se em uma outra realidade domesticássemos esses ratos como se fossem gatos, cachorros, pássaros, hamsters...mas as reticências do meu pensamento calaram-me.
Ao mesmo tempo, temia por ele me atacar caso eu abrisse a porta da guarita e, por isso, abri e fechei rapidamente a porta barulhenta de vidro temperado algumas vezes tomando as minhas notas mentais. Movia-se em sinal de desconforto e soube então que ele me sentia. Ali soube que os meus olhos enevoaram-se diante da minha própria incapacidade e covardia.
Não imaginava capaz de desafiar-me a tentar ajudá-lo, pois ali estava a possibilidade de querer atacar a mim, covardemente, seja por instinto, seja por sobrevivência ou apenas por enxergar ali um predador, por ver-me como ser humano que sou.
No entanto, um senso surreal de compaixão e empatia tomou os meus olhos, a névoa desabou em cinza. Chovia naquela tarde, o céu estava cinza. O pelo cinza molhara-se com a cintilância das gotas. Meu choro queimava um rastro cinza homogêneo do antes delineado preto com o blush rosê. Sentíamos o mesmo gosto da dor e, então decidi acompanhar a sua solidão ali, dividida pela transparência do vidro temperado pela chuva.
E éramos nós três: O rato, a solidão e eu.