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domingo, 29 de dezembro de 2019

QNE 18 casa 18 (Crônica)


                A casa da minha infância tinha cheiro. Tinha, porque o cheiro pertencia a casa. De manhã cedo, cheiro de pinha, lá havia uma ateira bem alta que soltava folhas grandes e perfumadas. Debaixo desse pé de pinha – o meu balanço de ferro, um acalento para as palmadas que eu levava pelas mal criações cometidas no  ônibus escolar. As cordas do balanço me impulsionavam automaticamente para o mundo dos meus sonhos verde-folha, meu analgésico para a tristeza. Eu imaginava a minha independência aos 18 anos, não apanharia mais.

                Durante o almoço  o cheiro se modificava. A casa tinha um cheiro agridoce-remoso que fazia a minha barriga reclamar de fome. O odor característico de Taguatinga dos anos 80 – perfume de pequi. Eu já poderia imaginar as possibilidades do almoço – galinhada com pequi, frango ao molho com quiabo e pequi ou apenas o pequi no arroz acompanhado de feijão, abóbora e costelinha de porco frita – o meu favorito. À mesa posta, almoçávamos contentes. O pequi para mim funcionava como um lullaby repentista para a minha soneca da tarde. Sonhava em ter 18 anos dançando valsa em um vestido dourado acompanhada do Super Mouse, meu crush na época.

                As primeiras cores da noite naquela casa tinham cheiro de suor. A QNE 18 toda me reconhecia com a minha Caloi de cestinha adornadas com um buquê de rosas falsas e folhas da ateira durante os passeios até o poente. As noites eram especiais, dava voltas me exibindo para o pé de pinha, uma dança que fazia suar a cada arrancada com a bicicleta. A mente voava alto com os devaneios azul celeste do terno do meu namorado imaginário, tão elegante e alto. Eu já tinha 18 anos, poderia abraçá-lo e dançar à vontade. O meu sonho só era interrompido pelo som das palavras de Cleuza que me chamava para tomar banho e jantar. Eu ouvia a janta de longe, era o som da panela de pressão que me fazia apressar correndo para dentro da casa toda suada.





quinta-feira, 16 de maio de 2019

Soul EducaDOR


Nos meus braços levo palavras, 
Conhecimento cru lapidado da dor
Fui batizada na batalha com as palavras,
Nomeada cavaleira errante entre classes

Recebi esta minha armadura quixotesca
Erguendo em punho um pincel com palavras
Entoando um hino de amor à sabedoria
Não fujo à luta, fui forjada no calor do embate

A guerra não é contra as almas que acalento
Luto contra os gigantes que açoitam minhas crianças de
Maioria negra, tratadas como minoria inferior.
Elas olham através de mim e eu empunho a voz
Entoando um brado de valentia e esperança


Os gigantes de olhos ocos hão de cair frente à onda de cavaleiros,
Blindados com o véu da honestidade das almas confiadas a nós
Assim o rio com a fórmula da água se transformará em
Mar revolto de multidão, guerreiros urrarão um ataque torrencial
Colocaremos os vilões em seus devidos lugares:
Moinhos de vento diante do Tsunami da Educação


Arte: @xjoaoastroboyx


sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

The love of Filira and Chronos

I am the excess in feeling and depth
My waters move beyond what is necessary But my sorrows are absolute, a swamp Of apparent stillness, gloomy melancholy diluted in solitude I am the exaggeration, love lullabies, thunderstorms of fury Lightning of feelings in the eye of the hurricane The waves of any violent tsunami are my own Obscene radiograph of my own volatile personality I am the intensity, light-scandalous, dark-lucid My structure - antagonistic - does not fit into satellites, rings My planetary psyche, dichotomies of Mars and Pluto War relieves me, morbidity makes me ludicrousness I am the too much, of dreams - raw and reality - voluble - Drown myself into my own overflowing liquidity I suffer from vomiting of sensations, erotic involvement I breathe the carbon dioxide of the imaginary surface of your being I am the exacerbation, the antagonistic sensuality of this melancholy Unstable yttrium, flammable in its gaseous atmosphere I contour myself with my hairy threads in fine scratches, his arms I break, making room for me to shrink in your rib cage I am the anxiety, the tender meat steaming with spices Pepper, nutmeg, salt, cumin, rosemary and cinnamon A dark cauldron on the coals, cracking the wood of affliction Bubbling of tasty lust, faint of aphrodisia I am the extreme, the intemperance of desires, passionate gluttony My unruly, chaotic soul is silent on fibromyalgic pain I once contorted in resistance against his typed letters I despair to restrain myself in front of your musical accent But I surrender myself, for I am exorbitant, restless voracity Intangible in the light of reason, hungry for feelings I now contort myself within reach of the outline of your lips And ethereal charcoal in the phallic lines to faint: in ashes of memories